Técnica minimamente invasiva é alternativa para o tratamento, principalmente para mulheres que desejam engravidar
Desde que o médico francês Jacques Ravina realizou, há cerca de duas décadas, a primeira embolização de mioma uterino, a técnica vem evoluindo e beneficiando um número crescente de mulheres portadoras desse tipo de tumor, particularmente as que desejam o tratamento sem a retirada do útero. A embolização consiste em bloquear os vasos sanguíneos que nutrem o tumor por meio de um procedimento minimamente invasivo. Sem irrigação, o mioma diminui. E o útero é preservado.
Na quase totalidade dos casos, o mioma é um tumor benigno. Mas tem grande incidência entre as mulheres na fase reprodutiva, afetando mais da metade dessa população. Destas, porém, apenas cerca de 30% precisam de tratamento. São pacientes que apresentam sintomas como sangramentos, cólicas e fluxos menstruais excessivos, sensação de peso no baixo ventre, dor durante a relação sexual, dificuldade para engravidar e até abortos espontâneos. As demais devem apenas fazer o acompanhamento regular com o ginecologista.
Embora associados à produção de hormônios na fase reprodutiva, as causas do surgimento de miomas são desconhecidas. Contudo, estudos apontam que a incidência é maior em mulheres da raça negra e naquelas com histórico familiar ou com alterações genéticas nas células uterinas. O diagnóstico se baseia na entrevista do médico com a paciente (anamnese), exame ginecológico e ultrassonografia.
O tratamento varia conforme a gravidade, a localização dos miomas e – aspecto importante – o desejo reprodutivo. Em algumas situações a terapia com hormônios é suficiente para controlar o problema, embora algumas pacientes se ressintam de efeitos colaterais como náuseas, dor de cabeça, retenção de líquido e ganho de peso, entre outros. Quando o tratamento hormonal não resolve e a mulher já é mãe, é mais frequente a retirada do útero (histerectomia). Já para as pacientes que desejam ter filhos, uma das alternativas é a embolização. As chances de engravidar após esse procedimento variam de 30% a 35%.
Outro diferencial da embolização é que ela permite o tratamento de mulheres que apresentam múltiplos miomas, mais difíceis de serem removidos pela miomectomia. O procedimento é indicado ainda em casos de recidiva após esta cirurgia (o que ocorre em cerca de 30% das pacientes) e também quando há tumores maiores. Aqui o objetivo é reduzir seu tamanho antes da intervenção cirúrgica, tornando a operação mais simples e diminuindo os riscos. A embolização pode ser ainda uma opção para mulheres que, mesmo já tendo filhos, querem preservar o útero, pois vêem nele um símbolo de sua feminilidade e sexualidade.
Envolvendo sempre uma equipe multidisciplinar (ginecologista e radiologista vascular intervencionista, entre outros), o procedimento para embolizar o tumor é feito por meio da punção da artéria femoral, na região da virilha, com a introdução de um cateter. Guiado por imagens de fluoroscopia, um tipo de raio-X dinâmico, o médico irá posicioná-lo na artéria uterina. Para acessá-la, é colocado um cateter ainda mais fino dentro desse primeiro. O tempo todo, a radiação é controlada por um dosímetro, garantindo níveis seguros de exposição.
Após a avaliação anatômica (em 4% dos casos a artéria uterina irriga o ovário, o que impede a embolização, já que esta afetaria o órgão que se pretende preservar) e a visualização dos nódulos, o médico faz a injeção de uma microesfera, o agente embolizante, que vai bloquear o fluxo de sangue nos vasos que alimentam o tumor. Sem irrigação sanguinea, seu tamanho vai diminuindo gradativamente. Seis meses após o procedimento, registra-se uma redução média de 40% do volume do útero. Feito com a paciente sob anestesia raquidiana ou peridural, o processo todo leva em torno de 1h30, incluindo preparo. Em poucos dias, a paciente pode retomar suas atividades de rotina.
Dispor de alternativas para tratamento de miomas preservando o útero é algo que ganha maior importância nos dias atuais. Investindo no desenvolvimento pessoal e profissional, cada vez mais mulheres deixam a maternidade para depois dos 30 anos. Estão na fase reprodutiva e, portanto, arriscadas a estar no grupo das portadoras de mioma. Para quem sonha ter um bebê, a embolização pode ser uma boa opção.
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