Há
anos os médicos,
por meio de suas entidades representativas, têm pedido ao Governo
medidas para melhorar a assistência em saúde da população.
Inclusive, têm apresentado propostas concretas, como a criação de
uma carreira de Estado para os profissionais do Sistema Único de
Saúde (SUS), a qual, se coloca em prática, garantia condições de
trabalho para médicos e enfermeiros, além de assegurar ao paciente
acesso à serviços de saúde equipados e adequados para melhor
atende-lo. Contudo, essa iniciativa positiva que depende apenas de
vontade política nunca saiu do papel.
No
entanto, às vésperas das
eleições de 2014, o Ministério da Saúde saca da cartola uma
solução mirabolante do bolso. O Programa Mais Médicos – parido
durante a Marcha dos Prefeitos, em Brasília – embrulha num mesmo
pacote uma coleção de ações e medidas que, juntas, não resolvem
os problemas atualmente enfrentados e tratam com indiferença o apelo
da população que foi às ruas exigir atenção do Governo em áreas
como saúde, educação e transporte.
Diante
do retrato pintado por meio da MP 621, as entidades mantém sua
posição crítica, a qual deverá ser materializada em inúmeras
ações concretas. O questionamento jurídico da iniciativa do
Governo Federal - o qual contraria a Constituição ao estipular
cidadãos de segunda categoria, atendidos por pessoas cuja formação
profissional suscita dúvidas, com respeito a sua qualidade técnica
e ética – é um destes instrumentos a ser empregado. Outros ainda
estão em análise.
Note-se
que ao reagir, as entidades médicas, assim como outros setores da
sociedade insatisfeitos e surpreendidos com o anúncio feito, fazem
um alerta severo à Presidência da República e ao Ministério da
Saúde. A insistência na adoção da importação de médicos
estrangeiros sem passar pela revalidação dos diplomas e na
ampliação irresponsável dos cursos de medicina em dois anos
implica em assumir total
responsabilidade pelas suas consequências. O Governo deveria evitar
a pauta imediatista e apostar no compromisso político de colocar o
SUS em funcionamento efetivo. É isso que a Nação espera.
Ora,
pagar
a passagem do médico estrangeiro para vir ao Brasil com dinheiro
público para em 15 dias aprender a falar português e, de quebra,
aprender os meandros do SUS não pode ser uma proposta séria do
governo. Falta base técnica e lógica para a proposta. Ao oferecer o
produto dessa formação capenga para atender os brasileiros
carentes, as autoridades contrariam a Constituição
e estipulam o cargo de cidadão de segunda categoria. Para que mora
no Rio de Janeiro ou em São Paulo, o melhor; para o interior do
Norte e do Nordeste, um remendo, um paliativo.
Outro
ponto questionável da medida se refere à ampliação do tempo de
formação nos cursos de Medicina em dois anos. Trata-se de uma
manobra, que favorece a exploração de mão de obra. Não se pode
esquecer que os estudantes já realizam estágios nas últimas etapas
de sua graduação e depois passam de três a cinco anos em cursos de
residência médica, geralmente
em unidades vinculadas ao SUS. Além, o país conhece os maus
resultados colhidos atualmente nas residências médicas. Se o
Governo não consegue mantê-las em bom funcionamento, alguém
acredita que este plano sairá do papel?
Também
não se pode ignorar que o formato de contratação de médicos - sem
garantias trabalhistas expressas, com contratos precários e com uma
remuneração não compatível com a responsabilidade e exclusividade
– são pontos que merecem críticas. Em lugar desse caminho, o
Governo deveria ter criado uma carreira de Estado para o médico,
dando-lhe as condições estruturais para exercer seu papel e o
estimulo profissional necessário para migrar e se fixar no interior
e na periferia dos grandes centros.
O
Governo precisa respeitar a população e garantir a sua segurança.
Todos sofrem com a falta de assistência no interior do Brasil. Hoje,
os médicos que trabalham no interior são heróis, pois faltam
remédios, macas, laboratórios, pias e até teto nos postos de
atendimento. O Governo fala que o Brasil tem faltam médicos, mas na
verdade a falta é de condições de trabalho e de atendimento.
Finalmente,
é pertinente salientar: a saúde é um direito de todos e um dever
do Estado. É o que diz a Constituição. Cabe
aos gestores assumir sua responsabilidade e oferecer instalações e
profissionais bem formados, transformando a regra legal numa verdade
cotidiana. O grito dos médicos em defesa dessa premissa, ao
contrário do que dizem alguns, não tem pecha corporativista ou o
interesse de fazer reserva de mercado. O que os médicos brasileiros
querem e exigem é saúde de qualidade para todos. É isso que o povo
quer e merece.
José Hiran da Silva Gallo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.