No mundo contemporâneo,
a estética se impõe de forma agressiva, muitas vezes colocando em
xeque os valores e a saúde de indivíduos e da coletividade.
Trata-se de uma ditadura que transforma editoriais de moda, novelas e
academias de ginástica em trincheiras da guerra para definir o que é
belo e o que é não é.
Nos anos 60, as mulheres
queriam ser como Marta Rocha, que perdeu o título de Miss Universo
por conta de duas polegadas, e o ídolo dos rapazes era John Wayne,
reconhecido mais pela postura e caráter que por seus dotes físicos.
Cinquenta anos depois, os padrões são outros, o que faz os seres
humanos normais sofrerem com os humores das indústrias da moda e do
entretenimento. Perde-se peso e alonga-se a silhueta num dia para em
seguida correr atrás de músculos e massa muscular.
Para atingir essas metas
– quase humanamente impossíveis – os incautos têm lançado mão
de um arsenal químico, aparentemente inofensivo e bem intencionado,
mas que provoca consequências devastadoras nos organismos de seus
usuários. Os esteroides anabolizantes (EA) são drogas, em sua
maioria, têm como função principal a reposição da testosterona.
Isso ocorre nos casos em que, por algum motivo, tenha ocorrido um
déficit desse hormônio.
Além dessa finalidade
específica, reconhece-se suas capacidade de estimular o aumento da
musculatura, o que os torna objeto cobiçado por atletas e pessoas
que querem ganhar força e melhorar o desempenho esportiva ou a
aparência física. No entanto, em busca da imagem e dos resultados
tão sonhados, muitos entram em terreno delicado, colocando em risco
seu bem estar e a própria vida.
De acordo com a
Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), no Brasil, aproximadamente
0,3% da população entre 12 e 65 anos já fez uso destas substâncias
pelo menos uma vez na vida. Entre estudantes de Ensino Médio e
Fundamental esta taxa sobe para 1%. Os estudos mostram que o
consumidor preferencial fica na faixa etária de 18 a 34 anos de
idade e, em geral, é do sexo masculino. Na década de 90, nos
Estados Unidos, levantamentos indicavam que mais de um milhão de
jovens já tinham feito uso de esteroides anabolizantes.
Muitas vezes vendidos em
academias ou farmácias, sem receita médica, essas drogas se
tornaram obsessão e objeto de desejo para milhares de pessoas que
desconhecem uma triste realidade: ao ingeri-las dão passos sobre o
fio da navalha que separa a saúde da doença, a vida da morte. A
irresponsabilidade chega ao ponto de se promover entre os adeptos o
consumo de fórmulas próprias ao uso veterinário.
Para constar: entre os
principais efeitos do abuso dos esteroides anabolizantes constam
tremores, acne severa, retenção de líquidos, dores nas juntas,
aumento da pressão sanguínea, DHL baixo (a forma boa do colesterol)
e tumores no fígado. Não se pode ignorar que aqueles que injetam
essas drogas em decorrência do perigo de compartilhar agulhas e
seringas ainda estão expostos ao risco de contrair doenças
infectocontagiosas.
Mas os problemas não
cessam aí. Há os efeitos crônicos causados pelo consumo indevido
desses produtos. Nos homens,
pode causar a redução na quantidade de esperma,
a calvice, o crescimento irreversível das mamas (ginecomastia) e a
impotência sexual. Nas mulheres, são reforçados os sinais da
masculinidade (voz grossa, crescimento de pelos pelo corpo e no
rosto, redução nos seios). Se o consumo começa cedo, na
pré-adolescência,
o crescimento pode ser interrompido deixando o usuário com baixa
estatura.
Em qualquer idade ou
sexo, os efeitos adversos incluem o aumento no risco de aparecimento
de tumores (câncer) no fígado; de alterações nos níveis de
coagulação sanguínea e de colesterol; de crises hipertensivas e
cardíacas; doenças de pele; e aumento da agressividade, que pode
resultar em comportamentos violentos, às vezes, de consequências
trágicas.
A população em geral
deve estar consciente destes e outros riscos para não sucumbir ao
que é de aparência tão inofensiva e com resultados tão nobres. A
perda de peso e o ganho de massa muscular resultam de trabalho duro,
de médio-longo prazos, mas que se conduzidos da forma correta,
permaneceram por muito tempo.
Da mesma forma, cabe aos
responsáveis pela Vigilância Sanitária fechar o cerco ao uso
dessas drogas. É preciso fiscalizar academias e farmácias e tratar
os que as comercializam como traficantes, penalizando-os
exemplarmente pelo mal que causam. Temos que acabar com a percepção
de que o emprego de anabolizantes provoca invencibilidade e reforçar
o cinturão ético e moral que nos cerca para impedir a
desestruturação social em função dos apelos efêmeros de uma
estética doentia.
Hiran Gallo
Hiran Gallo
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