8 de maio de 2012

Casais que não podem ter filhos vão à Índia em busca de barriga de aluguel.



O monumento tem mais de 400 anos. Em torno dele uma multidão. Na Índia, que só perde para a China em número de habitantes, são cerca de 1,2 bilhão.

Hyderabad, no sul da Índia, sempre teve um apelido: cidade das pérolas. O comércio delas é tradicional. Feito há séculos. Mas a cidade bem poderia ganhar um novo título: cidade dos bebês.

Bebês que saem de clínicas que oferecem o serviço de barriga de aluguel.
Indianas ficam grávidas em troca de dinheiro: recebem um embrião e geram o filho de casais que não podem engravidar. Mathew e James vieram dos Estados Unidos por isso.
Eles vivem juntos há oito anos. Queriam ser mais do que um casal, desejavam uma família. Logo vão conhecer o filho que encomendaram.

“Está pronto pra isso?” pergunta Matthew.

“Sim”, responde James.

O casal não conhece a mulher que vai dar à luz ao filho deles. Só sabem onde ela passou os últimos nove meses. Em uma clínica, as donas das barrigas de aluguel moram em um alojamento.

Ao todo são cerca de 60 mulheres espalhadas no último andar de uma clínica, todas elas já estão grávidas e a maioria pela primeira vez. Todas chegam de aldeias muito pobres da Índia e lá elas recebem cuidados e uma alimentação que elas não teriam condições de ter nas casas delas.

“Elas ficam com a gente e têm um regime rigoroso de dieta, higiene pessoal, suplementos, são acompanhadas o tempo todo”, explica uma médica.

Cada mulher recebe um pagamento de cerca de US$ 9 mil, cerca de R$ 16 mil por gestação.

Um dinheirão na Índia. Nas aldeias pobres, as pessoas vivem com R$ 3 por dia. Uma jovem de 24 anos vai usar o pagamento para quitar dívidas e abrir uma lojinha de cosméticos. Pergunto o que ela acha de ser barriga de aluguel.

“Estou muito feliz por participar do programa e poder ajudar outras pessoas”, diz.

O serviço de barriga de aluguel da clínica funciona há quatro anos. “No total, 212 mulheres já tiveram filhos com a gente, passando por todo esse processo”, diz a médica.

Pelo pacote de barriga de aluguel, os casais gastam cerca de US$ 25 mil, R$ 45 mil. Muito menos nos Estados Unidos, onde o preço chega a oito vezes mais.

O preço da barriga de aluguel na Índia é justamente o que atrai pessoas do mundo inteiro. Inclusive do Brasil, onde isso é proibido. Encontramos um casal do Rio de Janeiro que encontrou na Índia a solução para um sonho que parecia impossível.

No Brasil, pela constituição, uma mulher não pode receber dinheiro para gestar o filho de outra. O que é permitido é o empréstimo da barriga. Ou seja: oferecer o útero sem receber nada por isso.

Mas o Conselho Federal de Medicina impõe uma condição: quem cede a barriga deve ser parente de até segundo grau da mulher que vai ficar com a criança.

Em alguns casos, pode até ser uma amiga, desde que o conselho autorize.

“A nossa preocupação é com a afetividade, para que não gere demanda judicial lá na frente” diz José Hiran da Silva Gallo, diretor do conselho Federal de Medicina.

Lene e Richard, que moram no Rio de Janeiro, nem consideraram pedir a amigos e parentes. “É emocionalmente difícil ter sua irmã grávida para você”, diz Richard. O canadense e a brasileira estão juntos há 12 anos.

Lene tem duas filhas de outro casamento, Richard nunca foi pai. O casal tentou ter um filho. Lene fez um tratamento no Brasil para ficar grávida, uma fertilização in vitro, em que um espermatozóide fecunda um óvulo em laboratório.

“Foram quatro tentativas frustradas”, conta Lene.

“Tem pessoas que tentam sete, oito vezes. Pra nós emocionalmente era impossível”, diz Richard.

Foi possível quando Lene e Richard descobriram a barriga de aluguel, na mesma clínica indiana de Mathew e James.

“Começamos com e-mails, o site deles e tudo. Aí depois fomos até lá para ver se realmente era aquilo que a gente estava vendo nas redes sociais”, conta Lene.

As tentativas para que a mãe de aluguel engravide já começaram lá na Índia. Quando der certo, o casal vai acompanhar a gestação aqui no Brasil, a mais de 14 mil quilômetros de distância.

“Eu vou me sentir grávida”, brinca Lene.

No Brasil, a criança será considerada filha de Lene e de Richard.

“Quando a criança nasce já sai do hospital com a certidão de nascimento com o meu nome e o dele”, diz Lene.

Para a Justiça, quem é a mãe verdadeira em casos desse tipo? “Aquela que busca tratamento”, afirma Ana Scalquette, conselheira da comissão de biotecnologia da OAB.

“Eu posso pegar o óvulo de uma mulher e o útero de outra e serei considerada mãe”, completa.

“É uma decisão difícil, porque é o sonho de todo pai de dar um beijo na barriga. Não vai ter. Porém, eu vou ter filho”, diz emocionado o pai.

E já tem quarto para ele na casa. Agora os pais esperam a hora de conhecer o bebê. Para Mathew e James, essa hora já chegou.

“Dois meninos”, diz Matthew, ao descobrir o sexo do filho deles..

O encontro enfim acontece. James fica tão emocionado que só consegue expressar silêncio. Foi ele que doou sêmen para a fecundação. É o pai biológico.

Mathew já chama os filhos pelo nome: Foster e Fox. Depois de dez dias eles poderão levar os bebês para casa. Vão começar uma vida nova, junto a duas vidinhas novinhas em folha.

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